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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Mórbido Segredo

           Noite de sábado. Ana se preparava para receber a visita de suas amigas em seu apartamento. Nesse dia, elas não queriam saber de noitada, apenas queriam um momento de descontração entre as amigas, ou seja, uma noite só para as mulheres.
          Logo que as amigas chegaram, começou a diversão. Ana e as meninas conversavam, bebiam, riam, contavam casos do dia a dia e faziam piadas e brincadeiras relacionadas aos homens. Entre cada brincadeira, entre uma conversa e outra, taças e mais taças de vinho e champanhe eram consumidas, deixando assim, todas elas mais a vontade.
          Depois de algumas horas, já cansadas, Ana e suas amigas sentaram em um tapete na sala ao redor de uma mesa de centro, chegava o momento de ter conversas mais intimas. Cada uma revelou os sentimentos e os desejos de suas vidas. Até que, uma das garotas propôs algo. Ela sugeriu que cada uma das meninas revelasse um segredo que jamais contaram a alguém. Logo, todas concordaram.
          A primeira garota contou sobre um antigo amor, um caso que não deu certo, mas que nunca havia se esquecido do rapaz. A segunda garota contou sobre suas aventuras sexuais com os homens que passaram em sua vida. A terceira garota contou sobre uma mentira que disse para sua mãe na adolescência e que depois se arrependeu, e sempre que se lembrava disso, sentia um aperto no coração. Chegou a vez de Ana. Ela hesitou um pouco, mas depois decidiu revelar algo que há anos perturbava sua mente, algo que, por mais que tentasse, não conseguia esquecer. Ana disse que era algo que surpreenderia e até assustaria as amigas. Então, Ana começou a falar.
          “- Eu tinha 17 anos na época. Aconteceu em uma noite em que caiu uma forte tempestade aqui na cidade, e eu estava voltando da casa de uma colega de escola. Eu andava apressada, estava com medo da ventania, dos relâmpagos e trovões, estava praticamente correndo. Não havia mais ninguém na rua. Foi ai que eu passei em frente a um beco. Esse beco cortava um bom pedaço de caminho até em casa, mas ninguém costumava passar lá à noite por não ter iluminação. Eu sempre dava a volta, demorava mais, mas me sentia bem mais segura fazendo isso. Mas nessa noite decidi passar por esse beco, não era um caminho longo, mas era estreito e assustava só de olhar aquela escuridão toda. Começou a chover forte e eu não pensei duas vezes, adentrei o beco, achei que não havia ninguém naquele momento, ainda mais com o tempo daquele jeito. Mas não foi isso que aconteceu, havia alguém naquele beco. Eu caminhava apressadamente, queria chegar ao outro lado o quanto antes, e foi nesse momento que aconteceu. Eu estava praticamente na metade do caminho quando um raio iluminou todo o beco, e quando isso aconteceu, eu pude notar que havia alguém parado bem próximo a mim. Nos poucos segundos em que vi essa pessoa, deu pra perceber que se tratava de uma garota, isso devido aos cabelos compridos. Mas o estranho é que ela usava uma espécie de pijama,  igual aos dos pacientes internados em hospitais usam. Levei um baita susto. Já estava assustada com a escuridão e a tempestade, e ao ver essa garota, acelerei ainda mais os passos. Mas mal dei cinco passos e senti uma mão agarrando meus braços. Era a garota. Entrei em desespero. Tentei por diversas vezes me livrar dela, mas não conseguia, ela continuava me segurando com muita força. A cada relâmpago eu podia notar um pouco da aparência dela. Ela era magra, quase esquelética, seu rosto estava bastante machucado e inchado. Eu gritava para ela me soltar, mas não adiantava, ela continuava me segurando e me olhando com aqueles olhos escuros. Depois de muito esforço, consegui me livrar dela e corri desesperadamente sem olhar para trás, mas sentia como se algo me perseguisse. Cheguei em casa chorando muito e toda encharcada pela chuva, só consegui contar o que aconteceu aos meus pais depois de algumas horas. Depois mais calma, fiquei tentando entender o que de fato ocorreu no beco, tentava entender quem era aquela garota. Pensei se tratar de alguma garota doente que fugiu do hospital, ou algo do tipo. Parecia que tudo havia passado, mas foi ai que as coisas pioraram. Alguns dias depois eu soube de uma forma assustadora com o que estava lhe dando. Comecei a ter sonhos com essa garota. Depois dos sonhos comecei a ter visões dela em todos os lugares que eu ia, e por fim o pior, comecei a receber visitas dela no meu quarto. Ficava apavorada todas as noites que ela aparecia e ficava aos pés da minha cama me observando. Eu tentava gritar e chamar meus pais, mas não conseguia, ficava travada todas as vezes que ela aparecia, não conseguia me mexer, muito menos falar. Por vários dias essa garota me assombrou. Eu não conseguia dormir, passei muitas noites em claro. Meus pais até acharam que eu estava fazendo coisas erradas, coisas do tipo estar usando drogas. Eu contei o que ocorria, mas eles não acreditavam. Não aguentava mais, não aguentava mais ser assombrada por aquela garota esquelética, não aguentava mais olhar para aquele rosto medonho. Pedi por diversas vezes para ela me deixar em paz, mas não adiantava, ela sempre voltava. Mas certa noite quando ela apareceu, eu consegui abrir a boca e perguntar o que ela queria comigo, a garota apenas respondeu que queria me perturbar. Eu estava entrando em desespero. Uma das poucas vezes que ela falou comigo foi para perguntar se havia alguém para me substituir. Levei algum tempo para entender o que ela quis dizer com aquilo, mas quando compreendi o recado dela, decidi fazer algo. Algo que nunca deveria ter feito. Decidi levar alguém de encontro com a garota fantasma, assim eu deixaria essa pessoa no meu lugar, e me livraria dessa maldição. Então, uma noite pedi ajuda a um garoto chamado Alex, não gostava muito dele, mas pedi que ele me acompanhasse na travessia daquele beco. Ele aceitou. Estava apreensiva, mas decidida no que queria fazer. Eu e Alex adentramos o beco, já estávamos na metade do caminho quando a garota medonha apareceu e segurou no braço dele. Eu sai correndo, nem olhei para trás, só pude escutar os gritos de desespero do garoto. Depois desse dia, essa apavorante garota nunca mais apareceu pra mim, mas também, nunca mais vi esse garoto Alex. Tentei, mas não consegui esquecer daquela menina sinistra, nunca soube quem ela era, nem o que seu espirito fazia naquele beco e nem porque ela decidiu me assombrar. Até hoje penso no garoto e me arrependo do que fiz”
          Depois de terminar de contar seu segredo mais secreto, Ana caiu em lagrimas. Suas amigas que não sabiam o que dizer diante daquela situação, apenas a abraçaram. Apesar de estranharem a história, sabiam que Ana falava a verdade, pois à medida que ia contando os fatos, ia se emocionando cada vez mais. Depois dessa chocante revelação, Ana e as meninas decidiram nunca mais tocar no assunto e nunca mais revelar segredos tão intensos.

Autor : Felipe AG

Um comentário:

  1. Olá, Felipe, boa tarde! Contar segredos não é mesmo uma boa diversão. Afinal, segredo não é para ser guardado?

    Abraços!


    Sonia Salim

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